terça-feira, 12 de outubro de 2010

O azar das que não foram

Coloque-se no lugar de uma locomotiva a vapor. Agora pense: onde você preferiria estar a esta hora? Esquecida numa rotunda sob os efeitos da ferrugem ou rodando numa pequena estrada de ferro, sendo alimentada de boa lenha e, bebendo boa água e usufruindo do melhor óleo lubrificante?

Pois é provável que este seja o sentimento da bela ten-wheeler VFCO 239 (EFOM 134) que, ao contrário das suas companheiras de bitola métrica mostradas no post Antes e Depois Vol.1, veio parar em São João del-Rei, onde nem sequer tem linha em sua bitola de rodagem.

239 2

1986_oficina_SJDR_VFCO_239

Aqui a pobre 239, em 1986, ao chegar no pátio de São João del-Rei sobre uma prancha (mais acima) e esperando maquiagem (acima) para entrar como monumento estático na rotunda de São João del-Rei (abaixo), de onde nunca mais sairá, e será corroída pela ferrugem, principalmente pelo fato de ser mal cuidada pelos empregados da FCA SA. O mesmo vale para as 307 e 220 que a cercam.

As duas fotos de cima são do Acervo NEOM-ABPF. A foto abaixo é de autoria de Christopher Beyer, em 1986.

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A maior parte das locomotivas em bitola métrica que estiveram juntas com a 239 na rotunda de Ribeirão Vermelho ou no pátio de Eng. Bhering no final dos anos 70 foram parar em Campinas para serem restauradas em condição operacional, o que entendo ser o melhor destino para a conservação de uma locomotiva. A melhor maneira de evitar a ação da ferrugem é manter a máquina em movimento, com água no tender e na caldeira e óleo lubrificante nas articulações e todos os tipos de peças móveis.

Junto com a locomotiva 239 temos a Pacific 307, fabricada em 1927 pela alemã L. Schwartzkopf para a Rede Sul Mineira, incorporada junto com a Oeste de Minas na Rede Mineira de Viação, com o nome Estrada de Ferro Sul de Minas ou simplesmente RMV-Sul, e a Ten-wheeler 220, que já foi a EFOM 115. Tudo o que foi dito sobre a 239 serve para as outras duas, que sofreram a mesma sentença.

Muitas das companheiras de Rede Mineira de Viação dessas três estão hoje rodando em alguma linha que um dia esteve abandonada pelo Brasil: na Serra da Mantiqueira (São loureno e Passa Quatro); na região Mogiana (Campinas – Jaguariuna), na serra catarinense (Rio Negrinho).

Restou às três “cara branca” a melancolia da inutilidade e da triste ferrugem.

2 comentários:

João Marcos "Jones" disse...

Pois é, são logo as mais bonitas da estação toda e ficam trancafiadas na rotunda... Quais seriam as chances de colocá-las em operação aqui em São João, com uma bitola alternada para 0.76 cm?

Welber disse...

Uma rebitolagem hoje nessas peças seria impossível no que tange à sua historicidade. E há linhas para que elas sejam usadas conforme a bitola. Podem ser úteis num futuro a médio prazo. Pra nós ainda restam as 18 "bitulinha".